Domingo passado foi Dia das Mães — essa data lindamente fabricada no governo Vargas e com endosso total do capitalismo até hoje. No sábado, fui ao show do Fábio Jr... sem minha mãe. Acontece que, com o passar do tempo, ela adquiriu novos ídolos. E eu também. Conheci a obra de Fábio Jr justamente através dela. Era, sei lá, 2009, quando ela (ou meu pai) comprou o dvd Fábio Jr & Elas, uma edição do especial gravado pela TV Record em 1998, e era “só o que dava” na televisão lá de casa.
Na época, eu era muito fã da Joelma — sim, da Banda Calypso! — e não gostava das músicas do dvd que minha mãe e meu pai ouviam. Mas, de tanto ficar brincando ou fazendo qualquer outra coisa na sala, de frente pra tevê, sendo quase obrigada a assistir, passei a saber cantar as músicas, depois, a ouvir com mais frequência, e em pouco tempo eu já peguei o disco para ser meu. Esse disco foi uma porta de entrada para o meu conhecimento e paixão pela música popular brasileira, que hoje e para sempre é “só o que dá” nos meus fones de ouvido, saídas, playlists. Fiquei fascinada, não só pelo Fábio, mas também por Elza Soares, Leila Pinheiro, Joanna, Fafá de Belém… meus ídolos também mudaram, mãe (mas, sim, sei que um dos seus se manteve: Tom Cruise).
Em um dos sábados de faxina lá em casa, minha mãe me chamou lá no quarto dela. Tirou uma caixa de papelão da parte de cima do guarda-roupa, e mostrou o que havia dentro: CDs, DVDs, cadernos, banners do Maurício Mattar, Fábio Jr, Ricardo Chaves e principalmente Tom Cruise. Eu não conhecia Ricardo Chaves e Maurício Mattar, e lá foi ela me falar das micaretas que foi com Ricardo Chaves, as novelas com Maurício Mattar…
Em 2015, encontrei a primeira oportunidade de ir a um show do Fábio: em Limoeiro do Norte, cidade que fica a pouco tempo de Jaguaribara, onde eu estudava e já conhecia várias pessoas. Fomos eu, meu pai, minha mãe, minha tia e alguns amigos deles. No local do show, encontrei amigos meus de Limoeiro. Encontrei, também, uma oportunidade para conhecer pessoalmente Fábio Jr. Consegui uma pulseira para o camarim. Uma só. Antes mesmo de perguntar se minha mãe e minha tia queriam ir no camarim, tentei conseguir outras pulseiras, mas principalmente outra. Sem sucesso. Meu pai ficava perguntando se eu não levaria mesmo minha mãe. Minha mãe, embora dissesse que iria se eu conseguisse outra pulseira, dizia não se importar. Minha tia insistia que queria ir. Não deu pras duas, mas eu fui.
Passei mais de uma hora e meia na fila do camarim. Talvez eu nunca tenha lembrado disso antes, muito menos dito isso em voz alta, mas no último sábado, enquanto eu cantava alto as músicas do show do Fábio Jr em Fortaleza, eu lembrei que, naquela uma hora e meia que meus pés gritavam socorro num salto alto, eu me senti culpada por não ter conseguido levar minha mãe. E minha tia. Eu ficava pensando que devia ter dado a pulseira pra ela, que ela quem me apresentou Fábio Jr, que ela devia estar ali. Mas, ao mesmo tempo, lembrava dela rindo com a minha animação pra ver o Fábio de perto e focava no que estava prestes a acontecer.
E aconteceu: Fábio Jr foi o segundo ídolo que conheci (o primeiro foi a Joelma, ainda em 2007 ou 2008!), mas o primeiro que eu estava sem o suporte de minha mãe ou de minha tia. Entrei no camarim em estado de choque. Chorava tanto, meu Deus. Algumas pessoas da produção se compadeciam do meu estado e falavam “vai lá, mulher”, “me dá seu celular pra eu tirar foto”, saí do transe e entreguei meu celular a uma dessas pessoas. Não lembro direito desse momento, mas a partir daí o registro em vídeo prova: o próprio Fábio me puxou pela mão e perguntou se eu ia ficar só chorando, disse que também era chorão, mas que eu devia parar de chorar. Depois que acabamos as fotos coletivas com o grupo que entrou junto comigo, pedi uma foto sozinha e depois ele. me. roubou. um. selinho. Sim, Fábio Jr me deu um selinho (e não o contrário rs). Não que isso seja muito raro, mas…
Depois disso, só lembro de ter pedido para ele autografar uma foto que havia levado e sair correndo do camarim para contar para minha mãe, meu pai, minha tia. Os amigos deles todos já tinham ido embora, mas eles me aguardaram, claro. Eles gargalhavam, viam os arquivos incrédulos, questionavam se tinha sido mesmo um selinho e eu confirmava. Minha mãe ria e eu esquecia do que estava sentindo minutos antes.
Acredito que, aos poucos, a maturidade vai chegando nessas horinhas de descuido, sabe? Em que você percebe (mesmo não sendo mãe), que ser mãe, dentre outras coisas, é renunciar, abrir mão de tanta coisa, muito para que a areia que estava na mão da mãe escorra na da cria. E isso também é uma característica de todos os tipos de amor. Não naquele dia, mas sábado passado eu me dei conta que ao dar pouca importância (ou fingir dar pouca importância) em ir no camarim do Fábio, era a maturidade da minha mãe e algo muito oposto ao egoísmo falando.
Cresci cercada de mulheres assim. Cresci com cinco avós e isso diz muito da mulher que sou e virei a ser. E embora algumas dessas mulheres não tenham parido de fato, são mães no espírito, no zelo, na reza e na fala. E embora outras tenham parido mas comigo não tenham convivido, são também um pouco minhas mães na memória, nas histórias, na proteção e no espírito. Todas elas me ensinam todos os dias que tenho que ser muito mulher nessa vida e nas outras.

Sábado passado avaliei que, na verdade, posso realizar sonhos que minha mãe e minhas avós um dia sonharam — e talvez elas se sintam tão realizadas quanto se fossem elas no meu lugar, ou até mais. Eu também me realizo muito nelas e com elas.
Sábado passado minha mãe fez pouco caso de ir ao show do Fábio Jr, mas segue fazendo loucuras para garantir a ida a um show da dupla Bruno & Marrone. No domingo, vovó Mar me contou com tristeza que seu ídolo Fernando Mendes foi diagnosticado com Alzheimer.
Também é a primeira vez da minha mãe e das minhas avós vivendo, embora às vezes eu esqueça.
Esse é mais um pedido de desculpas pelo atraso no texto. Semana passada não estava medicada (juro!) e a inspiração não veio. Agora foi!
E, como ainda estou em fase de testes dessa news, tô achando que às terças pela manhã é um bom horário para enfim cravar data e hora do nosso encontro. Esse é um teste. Aprovam?